Aos 68 anos
de idade, quase 50 de carreira, Odair José está divulgando o seu 36° álbum e
logo avisa: “vocês vão ter que me aturar! Pois enquanto eu tiver fôlego, vou
fazer Rock n Roll”.
Odair José prepara repertório variado para show no Cine Joia |
No dia 03 de
março, Odair se apresentará no Cine Joia para o lançamento do disco “Gatos e
Ratos” e dar início a turnê homônima (leia). Mas nesta semana, o músico separou
um espacinho em sua agenda para dar uma entrevista aqui para o blog!
Preciso
confessar que, no início da conversa, quase não acreditei que aquela voz pacata
era a mesma que eu estava acostumado a ouvir cantando e fazendo críticas
pesadas à sociedade e ao governo. Mas a confirmação de que eu estava falando com
a pessoa certa veio logo na primeira pergunta.
Quis saber
se, mesmo após o fim da ditadura, ele ainda sofria algum tipo de julgamento na
hora de compor suas novas músicas e a resposta veio a galope: “a maior censura
que eu sofro é a hipocrisia da sociedade. Quando você expõe o que é escondido
pelas pessoas, elas tentam botar defeito naquilo e te criticam, ou seja, você
está botando o dedo na ferida.Com este novo disco, eu botei o dedo em dez
feridas!”
Capa do álbum "Gatos e Ratos" |
De fato, as
dez faixas de “Gatos e Ratos” trazem um desabafo sincero sobre situações que
caracterizam o momento atual do Brasil. “O álbum reflete o que eu observo. Eu
escrevo mais o que eu vejo do que o que eu sinto, sou um cronista do dia a dia”,
explicou Odair.
Reafirmando
sua eterna paixão pelas guitarras e bandas de Rock, as influências para o novo
trabalho do músico são explícitas. Além de seguir o conceito do Paul no seu
disco ‘McCartney’, o primeiro gravado fora dos Beatles, que soa simples e
caseiro, Odair bebeu na mesma fonte que George Harrison para compor a música
“Cobrador de Impostos”, dizendo que a faixa foi totalmente inspirada no
clássico “Taxman”.
“No Brasil
ainda tem muito disso. Os caras que estão no poder, e não importa se são de
direita ou de esquerda, querem ganhar dinheiro de tudo quanto é jeito. Daqui a
pouco vão cobrar grana até do morador de rua”, reclamou o guitarrista.
Mas esta não
foi a primeira vez em que Odair cutucou as feridas da sociedade. Há quarenta
anos, o álbum “O Filho de José e Maria” foi lançado e detonado pela crítica. Hoje
em dia, o disco foi redescoberto e aclamado pelos jovens, devendo até ganhar um
relançamento em vinil.
Capa do álbum "O Filho de José e Maria" |
“Eu fico muito feliz que vocês gostem desse disco e reconheçam que eu não cometi um erro há quarenta anos, eu fiz uma tacada certa e as pessoas é que não entenderam”, lamentou Odair ao relembrar o período entre a gravação e o lançamento da obra que hoje representa uma divisão de águas em sua carreira.
“Eu acho um
crime o que fizeram comigo! Às vezes eu parava no posto de gasolina para
abastecer meu carro e o frentista me chamava à atenção por ter feito um disco
desses, como se eu estivesse traindo meu público, quando na verdade eu só
queria fazer um trabalho que fugisse da mesmice que eu vinha fazendo. E um
artista que fica repetindo fórmulas faz negócio, não faz arte”.
Olhando para
o passado, o cantor se lamenta apenas de não ter feito mais discos com a mesma
potência logo em seguida: “Na época, eu acreditava que estava fazendo algo
genial, mas todo mundo me disse que aquilo era ruim e errado. E foi a partir
daí que fiquei preocupado em fazer
discos ruins, como se estivesse pedindo desculpas por ter sido tão bom naquele
álbum.”
Algumas
faixas de “O Filho de José e Maria” estarão no show do dia 3, junto com outros
clássicos da carreira de Odair. “Tento sempre escolher músicas que caibam
dentro da minha proposta de palco, pois faço show para as pessoas ouvirem e se
divertirem, mas principalmente pra pensarem”.
Antes de
terminar nosso conversa, Odair José fez um último convite para que todos que
nunca tiveram a oportunidade vê-lo em ação, apareçam no Cine Joia no dia 03 de
março e curtam a experiência.
As imagens do texto foram retiradas do site oficial de Odair José
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